A cicuta Alegre

. domingo, 17 de janeiro de 2010

Há muito tempo que se percebe a curva descendente do governo e, consequentemente ou vice-versa, a da cúpula dirigente do Partido que o compõe. Os resultados eleitorais das Europeias e a perda da maioria absoluta nas legislativas são sinais claríssimos e irrefutáveis deste facto.

Podem mesmo encontrar-se, fazendo um mero exercício analítico e comparativo, as similitudes que, eventualmente de forma abusiva, designarei de “socráticas”. Bastará, para tal, comparar o actual posicionamento de Sócrates com boa parte da vida do filósofo ateniense com o mesmo nome, nomeadamente a fase final da mesma.

Tal como o filósofo grego, também Sócrates não deixará – no final dos seus governos – nenhuma obra digna desse nome que se lhe assaque pessoal e directamente. A sua verdadeira história será escrita, posteriormente, pelos seus sucessores que, espero, não almejem o epíteto de “discípulos”.

Estou mesmo em crer que, quer os seus apoiantes partidários, quer os que lhe são críticos no seio daquela estrutura, estão já a preparar a sua sucessão.

O primeiro verdadeiro sinal do epílogo que se aproxima é a preparação e apresentação da cicuta que a candidatura presidencial de Alegre representa.

Veremos se Sócrates, tal como o filósofo grego, se vai resignar a “beber o veneno”.

A única diferença entre as duas personagens é que na Grécia antiga Sócrates fê-lo por opção, demonstrando grande elevação, pois podia ter escapado a tal condenação. Pelo contrário, e hoje em dia, Sócrates não tem – a partir deste momento – qualquer escapatória.

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